Vou fazer comentários sobre duas produções de aventura histórica baseada em fatos reais realizadas recentemente no Cazaquistão. São dois filmes realizados com bastante esforço e apuro técnico pelos cazaques, que utilizaram suas locações e seu dinheiro para financiar a empreitada. Percebe-se logo de cara nos filmes o carinho e o cuidado na realização dos mesmos, já que além de serem grandes apostas, mexem com o espírito patriótico e de formação daquele povo. No entanto para realiza-los os cazaques recorreram a auxílios multinacionais de participações, como atores japoneses, americanos, finlandeses e ao diretor russo Sergei Bodrov, realizador de ambos os filmes.
Mongol (2007), é o que pode se chamar de pequeno épico, ou pequena pérola. Temos aqui contada um retalho inicial de uma grande saga, que seria a conquista de boa parte do mundo conhecido por Gengis Khan. O filme vai narrar o nascimento do homem, seu relacionamento com sua mais fiel esposa (feita por Khulan Chuluun, muito bela) e como aos poucos sua personalidade foi talhada pela dureza e violência das estepes asiáticas para em seguida poder unir e comandar os povos nômades para um objetivo comum, e que iria influenciar a formação de muitos países da Ásia.
Estamos no século XII, o apuro histórico e visual do filme é impressionante, e o fato do elenco em sua maioria ser local e falar a língua da época, dão uma veracidade com poucos pararelos em filmes históricos. O ator japones Tadanobu Asano faz Tedmujin adulto, naquele tipo de performance que o ator some por detrás do personagem. Ritmo lento mas hipnótico, sutileza na condução, grande profundidade humana, escassas mas grandes cenas de combate dão o tom do filme, que é guiado pela ótima trilha sonora do finlandês Tuomas Kantelinen, que dá a obra um espírito de aventura distante, quase de conto de fadas.
Interessante também a dualidade de Tedjemudin, ao mesmo tempo cruel e sanguinário com os inimigos, e um homem carinhoso e comtemplativo com os parentes e companheiros. Pode ser decepcionante que a história de fato não tenha fim e que acabamos sem ver o melhor da vida de Khan, mas é de bater palmas o belo retrato montado neste filme. Vale a pena.
Nomad - A Profecia de um Guerreiro (2005). Já neste filme aqui, realizado dois anos antes pelo mesmo pessoal de Mongol, faltou o principal: equilíbrio. Trata-se da história de Mansur, passada no século XVIII, descendente direto Gengis Khan, e de seu amigo Orali, que serão responsáveis pela unificação das tribos cazaques em uma única nação, o que viria a ser o Cazaquistão moderno, devido à ameaça de um inimigo comum, a tribo Jungar.
Apesar do retrato civilizacional ser o mesmo, o da selvagem rotina dos povos das estepes asiáticas durante períodos de barbárie, Nomad... é um filme bem diferente de Mongol, primeiro aqui a produção pareçe ter caído no erro de seguir à risca a cartilha do épico holyoodiano plastificado de verão: clichês, triângulos amorosos melosos, trilha sonora rompante e pouco sutil em vários momentos e tudo mais. Como ponto positivo temos novamente a produção muito boa com reconstrução de figurinos e cenários de um nível muito alto, além de batalhas em larga escala sem a utilização de computação gráfica.
A produção da terra novamente dá uma certa veracidade, mas aqui o elenco de frente foi radicalizado na multinacionalização, compostos entre outros de mexicanos e americanos, como o havaiano Mark Dacascos, quase irreconhecível pela caracterização de época, fazendo um dos vilões, e a dos próprios protagonistas, feitos por Jay Hernandez (de O Albergue) e Kino Becker.
Nomad... infelizmente acaba não se sustentando, por ser muito previsível, realizado com a velha pretensão de forçar as emoções no espectador e o resultado é que tudo fica muito enfadonho e sem conteúdo. Ficam as imagens belíssimas das estepes cazaques e a decepção de serem desperdiçadas em um filme sem a substância necessária. Ainda bem que Bodrov parece ter percebido os erros e limpado bem as arestas para realizar o Mongol dois anos depois. Visto desta forma A Profecia de um Guerreiro pode ser visto quase que como um ensaio mal-sucedido de Mongol. Recomendo apenas para os aficcionados em filmes históricos.