quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Duas Aventuras Cazaques.


Vou fazer comentários sobre duas produções de aventura histórica baseada em fatos reais realizadas recentemente no Cazaquistão. São dois filmes realizados com bastante esforço e apuro técnico pelos cazaques, que utilizaram suas locações e seu dinheiro para financiar a empreitada. Percebe-se logo de cara nos filmes o carinho e o cuidado na realização dos mesmos, já que além de serem grandes apostas, mexem com o espírito patriótico e de formação daquele povo. No entanto para realiza-los os cazaques recorreram a auxílios multinacionais de participações, como atores japoneses, americanos, finlandeses e ao diretor russo Sergei Bodrov, realizador de ambos os filmes.


Mongol (2007), é o que pode se chamar de pequeno épico, ou pequena pérola. Temos aqui contada um retalho inicial de uma grande saga, que seria a conquista de boa parte do mundo conhecido por Gengis Khan. O filme vai narrar o nascimento do homem, seu relacionamento com sua mais fiel esposa (feita por Khulan Chuluun, muito bela) e como aos poucos sua personalidade foi talhada pela dureza e violência das estepes asiáticas para em seguida poder unir e comandar os povos nômades para um objetivo comum, e que iria influenciar a formação de muitos países da Ásia.

Estamos no século XII, o apuro histórico e visual do filme é impressionante, e o fato do elenco em sua maioria ser local e falar a língua da época, dão uma veracidade com poucos pararelos em filmes históricos. O ator japones Tadanobu Asano faz Tedmujin adulto, naquele tipo de performance que o ator some por detrás do personagem. Ritmo lento mas hipnótico, sutileza na condução, grande profundidade humana, escassas mas grandes cenas de combate dão o tom do filme, que é guiado pela ótima trilha sonora do finlandês Tuomas Kantelinen, que dá a obra um espírito de aventura distante, quase de conto de fadas.

Interessante também a dualidade de Tedjemudin, ao mesmo tempo cruel e sanguinário com os inimigos, e um homem carinhoso e comtemplativo com os parentes e companheiros. Pode ser decepcionante que a história de fato não tenha fim e que acabamos sem ver o melhor da vida de Khan, mas é de bater palmas o belo retrato montado neste filme. Vale a pena.


Nomad - A Profecia de um Guerreiro (2005). Já neste filme aqui, realizado dois anos antes pelo mesmo pessoal de Mongol, faltou o principal: equilíbrio. Trata-se da história de Mansur, passada no século XVIII, descendente direto Gengis Khan, e de seu amigo Orali, que serão responsáveis pela unificação das tribos cazaques em uma única nação, o que viria a ser o Cazaquistão moderno, devido à ameaça de um inimigo comum, a tribo Jungar.

Apesar do retrato civilizacional ser o mesmo, o da selvagem rotina dos povos das estepes asiáticas durante períodos de barbárie, Nomad... é um filme bem diferente de Mongol, primeiro aqui a produção pareçe ter caído no erro de seguir à risca a cartilha do épico holyoodiano plastificado de verão: clichês, triângulos amorosos melosos, trilha sonora rompante e pouco sutil em vários momentos e tudo mais. Como ponto positivo temos novamente a produção muito boa com reconstrução de figurinos e cenários de um nível muito alto, além de batalhas em larga escala sem a utilização de computação gráfica.

A produção da terra novamente dá uma certa veracidade, mas aqui o elenco de frente foi radicalizado na multinacionalização, compostos entre outros de mexicanos e americanos, como o havaiano Mark Dacascos, quase irreconhecível pela caracterização de época, fazendo um dos vilões, e a dos próprios protagonistas, feitos por Jay Hernandez (de O Albergue) e Kino Becker.

Nomad... infelizmente acaba não se sustentando, por ser muito previsível, realizado com a velha pretensão de forçar as emoções no espectador e o resultado é que tudo fica muito enfadonho e sem conteúdo. Ficam as imagens belíssimas das estepes cazaques e a decepção de serem desperdiçadas em um filme sem a substância necessária. Ainda bem que Bodrov parece ter percebido os erros e limpado bem as arestas para realizar o Mongol dois anos depois. Visto desta forma A Profecia de um Guerreiro pode ser visto quase que como um ensaio mal-sucedido de Mongol. Recomendo apenas para os aficcionados em filmes históricos.

5 comentários:

Takeshi Age of Asia disse...

Olá Jau! Sobre o O Nômade (Nomad) para mim foi uma grande decepção. Também acho que o elenco foi muito mal escolhido.

Quanto a esse Mongol ainda não assisti, mas vi a versão japonesa da biografia do conquistador das estepes, GENGHIS KHAN: O IMPERADOR DO MEDO (Aoki Okami Chihate Umi Tsukiru made), como todo filme japonês, apelo melodramático e uma trilha sonora boa pra vender CD, mas até que achei legal, contém ótima fotografia e atuações razoavelmente acima da média. Diz o trailer: levou-se 30 anos para o filme ficar pronto! Se considerarmos esse tempo, bem que o filme poderia ser melhor.

Jau disse...

Nossa... 30 anos... Confesso que nunca ouvi falar deste O Imperador das Estepes, mas deve ser legal, o tema já meio jogo ganho. Já o Mongol é boa pedida mesmo, apesar de ser a mesma produção, mesmo diretor, e mesma temática é um filme bem mais apurado.

Takeshi Age of Asia disse...

Acho que expliquei mal, o filme se chama GENGHIS KHAN: O imperador do medo, Japão 2007. Lançado pela Paris Filmes no ano passado se não me engano.

Pelo o que vi, não fez nenhum barulho nem aqui nem lá fora, presumo que tenha sido um fracasso, me corrijam se eu estiver errado, pois não encontrei informações mais detalhadas.

Um engano que cometi: foram 27 anos de produção. 30 milhões gastos.

Veja o trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=bztuzYHUzcQ

Jau disse...

Vi o trailer... interessante que a produção coloca os 27 anos de produção como coisa boa... mas é tempo demais, e dá a impressão de que se enrolaram todo para fazer o filme. Apesar do jeito meio de novela das oito do trailer fiquei com vontade de assitir.

Lá no imdb o pessoal falou que o filme foi prejudicado por causa de Mongol, que foi lançado no mesmo ano com melhor distribuição e acabou ofuscando esse.

Takeshi Age of Asia disse...

bom saber Jau. Preciso ver logo "Mongol", as batalhas parecem ser bem melhores. E Genghis Khan o imperador do medo, não vale como filme de ação, só drama mesmo.