Filmes - Desejo de Matar

DESEJO DE MATAR (DEATH WISH) - EUA 1974; Dir. Michael Winner; com Charles Bronson, Hope Lange, Vincent Gardenia e Steven Keatse.

E lá se vão mais de trinta anos que este filme filme foi lançado nos cinemas e ainda surpreende, pela ousadia e pela idéia assustadora e nefasta de que um cidadão comum pode de um dia para o outro sair á noite e matar em nome de justiça com a suas proprias mãos. A premissa da obra é simples: o arquiteto Paul Kersey (Charles Bronson, icônico como sempre) um cidadão americano pacato e ordeiro (apesar de ser veterano da guerra da Coréia) tem sua esposa morta e sua filha estrupada por um grupo de delinquentes em Nova Iorque, a partir daí Paul passa a reagir de forma incrivelmente degenerativa e negativa ao acontecido, passando de pensamentos de vingança a todo o tipo de bandido da grande cidade à ação propriamente dita. Saindo sistematicamente toda à noite para simplesmente atrair e matar todo tipo de marginal, drogado, e pé-rapado que cruzasse o seu caminho, Paul se torna um vingador, um assassino frio, e o pior, que encontra conforto no acontecido à sua família após tais ações. Inteligente, o roteiro do filme foge totalmente do arquetipo de vingança vazia e Paul jamais encontra os assassinos e estrupadores originais de sua família, mata no entanto quem se encaixa à sua maneira no estereótipo destes, colocando à verdade a máxima extremista: bandido bom é bandido morto. Apesar da primeira metade excessivamente lenta, o filme se encontra na sua segunda parte, imprimindo um clima vertiginoso ás cenas quase sempre noturnas dos quartro cantos da selva urbana que é Nova Iorque. Adequado à sua época, a película retrata a degradação da megalópole americana dos anos 70, afogada na criminalidade e na segregação de raça/classe. E surprendentemente trata de forma ainda atual sobre a posse indiscriminada de armas nos EUA (o amigo de Paul lhe presenteia uma arma como se lhe desse uma caixa de bombons). Destaque para a atuação de Vincent Gardenia, como um detetive racional, fazendo contraponto às ações desmedidas de Paul. Extremista, reacionário e fascista o filme de Winner fez inesperado e grande sucesso nos EUA e no mundo (no Brasil inclusive com dezenas de reprises na televisão nas madrugadas dos anos oitenta), encontrado grande e radical público que aplaudia de pé as ações de Paul, personagem que engrossou ainda mais o perfil e a popularidade de ator "durão" de Charles Broson, perfeitamente escalado para o papel. Uma história que enalteceu o sentimento de vigilantismo (a obra frisa a falência das intituições legalizadas), fenômeno que sempre se desenvolve em ambientes urbanos violentos, graças à pegada da direção de Winner, bem datada aos anos setetenta (a ótima trilha sonora soul de Herbie Hancock reforça o pilar temporal da produção). Teve quatro continuações, algumas de qualidade, mas sem o espírito assustador de pessimismo social deste filme original. Conferida obrigatória.

Obs: comentário originalmente publicado no meu falecido blog, reupado aqui.